Desencantado com o rol de candidatos à sua disposição, o eleitor de Floripa resolveu emigrar para o planeta Marte, na expectativa de lá ser bem recebido por um morador ilustre, o conterrâneo Mayer Filho, surrealista que pintava galos.
Além da tristeza de ter experimentado prefeitos e governadores medíocres, Floripa acabou vítima de outra pandemia mundial: o engarrafamento urbano.

Floripa acabou vítima de outra pandemia mundial: o engarrafamento urbano – Foto: Anderson Coelho/ND
Tudo começou com um engarrafamento-monstro no “rond-point” do Arco do Triunfo, em Paris, continuou pela Oxford Street, em Londres; Quinta Avenida, em Nova York e Prospekt Kalinine, em São Petersburgo.
Houve uma explosão mundial de neurastenia que alcançou o seu clímax na SC-401, caminho das praias, em Floripa – onde, no verão de 2022, nasceram trigêmeos ao frigir do sol do meio-dia.
Cansado de ver negado o mais essencial dos seus direitos humanos – o de ir e vir – o homem tratou de lançar colonizações à Lua e Marte, onde os governos humanos se instalaram após intergalática campanha – nem por isso infensa às baixarias, como sempre acontece nessas lutas pelo poder.
O primeiro ônibus espacial de imigrantes a chegar à atmosfera do planeta encarnado foi o de um grupo pioneiro de Floripa, cansado do isolamento social, por conta das sucessivas ondas do vírus mais mutante da história bio-médica universal.
O tal do coronaírus ficou tão popular que chegou a receber votos nas eleições presidenciais de 2022. Aliás, foi mesmo o mais votado, mas sua eleição acabou cassada pelo TSE, pela simples razão de que não possuía direitos políticos, sendo uma personalidade fracionada do mundo “viral” – e não “representativa” da espécie humana.
O primeiro ônibus intergaláctico vindo de Floripa acabou barrado na alfândega marciana, que se recusou a carimbar passaportes com “vistos de permanência” assinados por políticos.
O impasse só foi superado graças ao “jeitinho” brasileiro, apesar dessa xenofobia cósmica ter-se instalado no preconceito universal. Tudo foi resolvido graças ao florianopolitano Mayer Filho, que há anos reside no planeta vermelho e lá goza de sólido prestígio artístico e moral. Só assim os catarinenses passaram a ser bem-vindos naquela esquina da galáxia.
Floripa e a Lagoa da Conceição continuavam lindas, mas a tal “máscara”, em pleno ano de 2030, continuava enfeitando a “proa” de todo o ser vivente, posto que os políticos haviam produzido tamanha “guerra” entre as vacinas que não conseguiram imunizar ninguém…
Aos poucos a evasão intergaláctica tornou-se uma solução – estimulada pelo primeiro marciano entre os seres humanos – sim, o mestre dos galos, Meyer Filho, que, mesmo em Terra, já vivia no “ritmo” de Marte.
– “Venham pra cá, pessoal! – convidou o “Galo” – aqui não tem vírus!”
O homem vindo de Floripa tornou-se uma espécie quase imortal em 2040, em sua nova colônia marciana. Sem o “Corona”, sem o “stress” dos engarrafamentos e sem a proverbial corrupção imperante no planeta Terra, ninguém envelhecia nos domínios de Marte.
As pessoas remoçavam, sem máscara.
O problema é que a população da Terra já alcançava 12 bilhões de pessoas e todo mundo queria ir para Marte, assim como, no começo do século XXI todos queriam morar na Ilha de Santa Catarina.